dois perdidos numa noite suja

sábado, novembro 26, 2005

O crepúsculo do mestre



Foxtrotbravo, com quem só tenho me comunicado por meio desta página, me cobra uma palavra sobre o recém-finado Pat Morita, o professor Miyagi do Karate Kid.

Como se sabe, eu costumava dormir no horário da Sessão da Tarde. Inexperiente e sem visão de futuro, não imaginava que o recesso vespertino me deixaria alheio, nos anos seguintes, a 783.256 horas de papo com amigos saudosos de Chevy Chase e outros ídolos dublados pelos funcionários de Herbert Richers.

O que tenho a dizer sobre o japa é o seguinte: com ou sem tevê, sua morte fez centenas de ex-alunos se lembrarem de Luiz Gonzaga de Souza Lima, professor de marxismo-troskismo-leninismo e outros detalhes da política na Faculdade de Direito da Uerj (passagem lamentável que bravomikefoxtrot costuma esconder de seu currículo).

Há três anos, o clone do sábio pop defendia com entusiasmo a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Para conquistar a simpatia do mestre, estudantes circulavam pelo cinzento complexo prisional - digo, universitário - do Maracanã com adesivos e estrelinhas vermelhas na camisa.

Natural de Montes Claros (terra de outro evangelizador de esquerda, o implacável Darcy Ribeiro), o Miyagi tropical não imaginava que o sonho proletário era financiado por outro mineiro: o carequinha de Curvelo.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Hallelujah Hallelujah



3h45, último ponto na monographia.

domingo, novembro 20, 2005

Socialista e libertário



Depois que o Sr. Burns se filiou ao P-SOL, achei que nada mais podia me surpreender naquela agremiação marxista-trotskista-leninista de esquerda. Eis que ligo a TV, numa tentativa desesperada de fugir da monographia, e descubro que Clodovil Hernandez será candidato a deputado federal pelo partido radical. O Google informa que a notícia é velha - Heloisa Helena visitou o estilista em sua casa de praia em Ubatuba, no emblemático dia 24 de setembro.

Já vejo Clodovil em animados debates sobre a emancipação do proletariado com o agitador Milton Temer, que usou sua coluna no JB para absolver, como "contribuição militante", a cobrança de mensalinho aos funcionários do gabinete do senador Geraldo Mesquita.

De resto, dois pensamentos sobre o projeto Clô 2006:

1. A experiência brasileira mostra que apresentadores de programas populares na televisão costumam se dar bem nas urnas. Entre os felizardos, o apresentador Ratinho, eleito em 1989 pelo PRN de Fernando Collor, e o ex-repórter do Povo na TV Roberto Jefferson.

2. A julgar pela foto acima, Clodovil terá que mudar o visual para não ser confundido em plenário com o Fernando Gabeira.

sábado, novembro 19, 2005

Ela merece



É difícil acreditar que Danuza Leão fez tanta coisa em apenas uma encarnação. É a primeira conclusão a que se chega ao fim de suas memórias, Quase tudo, que a Companhia das Letras distribui hoje às livrarias. A segunda é a incrível capacidade que ela mantém de renovar-se, mudar de vida como quem troca de vestido ou, no caso especialíssimo dela, como quem dá um pulo em Paris. Uma dessas viradas, no entanto, foi especial e, se ela não acontecesse, você certamente não estaria lendo esse comentário. Um belo dia, folheando O livro dos insultos, uma coleção de artigos de H. L. Mencken que Ruy Castro organizou e traduziu, Danuza encontrou uma sacada que mais uma vez mudou sua vida: não se deve ensinar uma criança a escrever, mas a pensar, porque quem pensa escreve. Ela então escreveu um manual de procedimento que vendeu horrores (Na sala com Danuza), virou colunista de jornal e, agora, memorialista.
(Alvaro Costa e Silva, JB)

"Paulinho, eu vou ali ficar ao lado daquela mulher”, disse Danuza Leão apontando uma socialite para o cirurgião plástico Paulo Muller, num coquetel duas semanas atrás na Fundação Eva Klabin.
— Você dá uma avaliada e depois me diz quem tem a bunda maior.
Danuza postou-se então, discretamente, ao lado da tal senhora e se fez de lado, se deixou de perfil, manteve-se de costas radicalmente, colocou-se enfim ao confronto em todos os ângulos para que o amigo, ao longe, lhe confrontasse o contorno calipígio com o da rival. Em seguida, tensa, voltou para ouvir o veredicto de Paulinho:
— A bunda dela é maior.
Ufa! Deus é pai!
Nos últimos dias, Danuza Leão só tem ouvido notícias boas.
(Joaquim Ferreira dos Santos, O Globo)

Ao se tornar colunista do "Jornal do Brasil", em 1993, Danuza Leão ganhou enfim uma palavra para escrever no campo "profissão" das fichas de hotel: jornalista. Mas, ao se pensar em Danuza, em que ofício se pensa? Escritora? Ela discorda. Socialite? Ela é capaz de xingar quem chamá-la assim -até porque não é ofício, muito pelo contrário.Danuza, colunista da Folha há quatro anos, é daqueles casos cada vez mais raros de pessoa que transforma o nome em adjetivo de si mesma. Danuza Leão é Danuza Leão. Quem não gosta dela pode acusá-la, portanto, de ser má Danuza Leão.
(Luiz Fernando Vianna, Folha)

O livro de memórias de Danuza Leão, Quase Tudo (Companhia das Letras, 224 págs., R$ 38), tem mais de 200 fotografias.São fotos de álbuns de família, dos tempos em que ela era modelo em Paris e Nova York, e da autora posando ao lado de figuras públicas como Juscelino Kubitschek, Mao Tsé-tung, o ator Rock Hudson e o cineasta Roberto Rossellini. Como o livro transita entre a autobiografia íntima, a profissional e a pública, as duas centenas de fotografias têm cabimento. Ainda mais porque as feições angulosas de Danuza, seu porte esguio e o seu riso discretamente escancarado - se é que isso é possível - provam que existe, mesmo, a chamada elegância natural.
(Mario Sergio Conti, Estado)

quinta-feira, novembro 17, 2005

Moreno nervoso



Por diversas vezes, desafiou leitores a saírem do anonimato e informou ter censurado comentários que considerou ofensivos. Em contrapartida, foi acusado de não aceitar críticas. No dia 29 de setembro, contrariado por comentários que consideraram “lacônico” seu registro da eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara, escreveu post com o título “Vão baixar em outra freguesia”. Chamou leitores de “mal informados, mal resolvidos” e disse detestar “a burrice e a mediocridade, o pensamento estreito”. Horas depois, reagiu a ofensas de um leitor identificado como kayser souver e, julgando-se ameaçado de morte, ameaçou encerrar as atividades do blog.

terça-feira, novembro 15, 2005

Monographia em curso



Para reconstituir o inferno, Hersey visitou o outro lado do planeta, consumiu 17 dias de entrevistas e outros 50 no encadeamento das histórias. O sucesso da primeira edição inflacionou os 300 mil exemplares, vendidos por até 20 dólares com preço de capa de 15 cents. Meio século depois, a tecnologia poderia ter convencido o editor Harold Ross a investir em outra história. Na era dos blogs, as tragédias passaram a ser narradas em tempo real, para todo o mundo, pelos próprios protagonistas. Guardadas as proporções, foi o que aconteceu nos atentados ao metrô de Londres em agosto de 2005, quando sobreviventes usaram os blogs para divulgar depoimentos em primeira pessoa sobre as explosões.

domingo, novembro 13, 2005

Apocalípticos e integrados (de novo)



O tempo passa e as teóricos da comunicação se repetem como farsa. Desde que inventei essa monographia (Os blogs e a crise do mensalão – Novos padrões na cobertura política), estou soterrado por textos que exaltam a ferramenta como a maior revolução desde a tipografia móvel de Gutenberg.

Tem gente prevendo o fim dos jornais para depois de amanhã, no máximo semana que vem e olhe lá. Apesar do oba-oba, as grandes empresas de mídia dominam o meio no Brasil. O último "independente", Ricardo Noblat, acaba de vender o passe ao Estadão. É mais ou menos isso o que eu preciso dizer em 60 páginas, corpo 12, espaçamento um e meio e entrega em dez dias. Torçam por mim.

***

Com a tecnologia do videotape portátil, todo material gravado numa locação fica pronto instantaneamente – e na própria locação. Assim, as pessoas podem controlar a informação sobre si mesmas, em vez de capitular ao poder de forasteiros. [As redes americanas] ABC, CBS e NBC não nadam como peixes entre as pessoas. Eles assistem da praia e só vêem a superfície da água. Shamberg, 1971

A vídeo-verdade da vida operária e as manifestações antipobreza não foram páreo para [a série de TV] Starky and Hutch e [o programa de notícias] 60 Minutes. Embora as câmeras de vídeo tenham continuado a diminuir de preço e tamanho até a década de 90, Shamberg e seus companheiros de guerrilha não foram muito além de canais de pouca audiência, escondidos no fim do dial. A revolução foi televisionada, mas ninguém assistiu. Shafer, 2005

sábado, novembro 12, 2005

Portfólio

Tinha 37 de idade, era solteiro e tão mal comportado quanto as circunstâncias e o berço lho permitiam — algumas coristas e bailarinas de fama equivalente a todas as suspeitas, ocasionais empregadas de balcão da Baixa, duas ou três virtuosas senhoras casadas de sociedade e uma muito falada e disputada soprano alemã que estagiara três meses em S. Carlos e de que constava não ter sido o único frequentador. Era, pois, um homem dado a aventuras de saias mas também a melancolias.

Miguel Sousa Tavares. Equador. Oficina do Livro, 2003
(prova pirateada em pdf)

domingo, novembro 06, 2005

Cobra nervosa


A deputada-carcereira, de amarelo, em dia festivo. Repare a credencial

A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) aproveitou a convenção do tucanato paulista para destilar veneno contra o PT. Obcecada por algemar companheiros, preservou colegas que inauguraram o valerioduto em 1998, durante campanha do ex-governador mineiro Eduardo Azeredo. Com vocês, a Denise Frossard do Tietê:

- Lugar de PT é na cadeia, a começar pelo José Dirceu. O lugar do Dirceu é na cadeia. E tem o próximo bandidão que vai sair, que é o Lula. Ele é o chefe da quadrilha. E a Martinha, cadê ela? Cadeia pra ela também!

(Globo Online, 6/11)

Kleber e Helinho dão calote em médium



O desespero do Flamengo é tão grande que a diretoria rubro-negra contratou o paranormal Roberto Lengruber, que se diz médium e chegou a ser preso na década 80 acusado de charlatanismo, para livrar o time da Segundona. Lengruber, porém, acusa os dirigentes de darem calote e avisa: o clube será rebaixado este ano.

Segundo o médium, ele foi procurado antes do jogo contra o Juventude, no dia 26 de outubro, há três rodadas, pelos ex-presidentes Kléber Leite e Hélio Ferraz, que assumiram o comando do futebol do Flamengo em meados do mês passado. (...) Ontem, o acordo foi desfeito e Lengruber deu seus trabalhos por encerrados:

— Não vou nem fazer trabalho contra o Flamengo. O time é muito ruim e vai cair. (...)

Guilherme Van Der Laars. Extra, 6/11

quinta-feira, novembro 03, 2005

Tucanaram a ligação direta

Ele foi morto por uma infelicidade, quando passava pelo local onde se efetuava uma subtração de veículos

Rômulo Vieira, delegado titular da DH da Baixada, em entrevista a foxtrotsierra

Rum, Fidel e o ouro de Moscou



São Paulo, setembro de 2002, um mês antes da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo de Fidel Castro usa duas caixas de uísque Johnny Walker e uma de rum Havana Club para esconder US$ 3 milhões em cash. O dinheiro é enviado de Cuba ao comitê eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo, numa operação que envolve um vôo com duas escalas e uma viagem de carro blindado.

A história parece enredo de filme da Guerra Fria, mas foi capa da revista de maior circulação do país na semana passada e, nos últimos dias, dominou as discussões políticas no país. Líderes da oposição já tentam usar a suposta cooperação comunista como motivo para pedir o impeachment do presidente da República, cujo partido é acusado de comandar um esquema de caixa dois e compra de votos no Congresso.

Enquanto não se apura a veracidade da trama – a matéria da Veja, sem provas, é baseada no testemunho de dois ex-assessores do ministro da Fazenda – políticos de esquerda e historiadores lembram o episódio do “ouro de Moscou”, que teria financiado um levante frustrado de militares de esquerda em 1935.

A ditadura de Getúlio Vargas – que sobreviveu por mais uma década, até o fim da Segunda Guerra – acusou os revoltosos da Intentona de receberem dinheiro da União Soviética. Os US$ 27 mil teriam sido entregues ao líder comunista Luis Carlos Prestes por determinação da Internacional Comunista, empenhada em patrocinar uma versão tropical da tomada do Palácio de Inverno.

“A difundida – e interessada – tese das ordens de Moscou não tem qualquer base na realidade”, escreveu a historiadora Marly de Almeida Gomes Vianna na última edição da Nossa História.

A revista fica nas bancas até o fim de novembro. Foi editada antes da denúncia dos dólares cubanos.

[esta vai para o blogue da palmalouca, um saite etílico como você nunca viu. estamos com uma versão teste no ar]