dois perdidos numa noite suja

terça-feira, julho 25, 2006

Bonde do bi


O time de 90, quando o Maracanã ficava realmente lotado: base do penta

Lazaroni é o cacete. Em 1990, a verdadeira Copa foi a do Mengão, conquistada no Serra Dourada lotado contra o Goiás. Dezesseis anos depois, foi a vez de o time de Parreira envergonhar o país. Agora a história vai ser repetir no Maraca. Adivinhem quem será o vice!

01/11/1990, Maracanã - FLA 1 x 0 Goiás
Zé Carlos; Aílton, Vitor Hugo, Fernando e Piá (Rogério); Marquinhos (Zanata), Júnior, Djalminha e Zinho; Renato Gaúcho e Gaúcho. Técnico: Jair Pereira.

07/11/1990, Serra Dourada - FLA 0 x 0 Goiás
Zé Carlos; Aílton, Vitor Hugo, Rogério e Piá; Uidemar, Júnior, Bobô (Nélio) e Zinho; Renato Gaúcho e Gaúcho. Técnico: Jair Pereira.

domingo, julho 23, 2006

Falta de espaço


Chiquinho, o Eurico Miranda da Estação Primeira

Por culpa dessa praga, o leitor perdeu uma bela declaração do probo Chiquinho da Mangueira, proferida ontem no longínquo e decadente Clube Riachuelo.

“Não podemos dar chance a essa falsa juíza que vive mentindo. Ela não gosta de pobre, não gosta do povo. Quem gosta do povo somos nós.”

segunda-feira, julho 17, 2006

Marai, viejo sacana



De Essen viaje a Stuttgart, donde no tenia nada especial que hacer; no iba ni a los museos ni a visitar los monumentos de la ciudad. Me sentaba en los bancos de los parques y en los cafes, siempre al acecho, nervioso, dandome aires de importancia, convencidisimo de que algo iba a ocurir de inmediato, algo que seria decisivo y determinante para mi vida entera. Casi nunca ocurria nada, solo que volvia a quedarme sin dinero.

Sandor Marai, Confesiones de un burgues

quarta-feira, julho 05, 2006

Torcida broxa

O movimento das putas caiu. No fim da tarde, a matéria também.

Tem coisas que só o insonia mostra pra você.

Além dos torcedores que sonhavam com o tetracampeonato em casa, outro grupo de alemães vai guardar más lembranças da Copa. Prostitutas e donos de bordéis se frustraram com torcedores estrangeiros que, de olho na bola, tiveram pouco tempo para se ocupar com outras coisas.

Aberto estrategicamente ao lado do Estádio Olímpico de Berlim, o Artemis esperava faturar alto com a chegada de 500 clientes por dia, mas só conseguiu atrair a metade. Como consolo, as moças foram bem tratadas: não houve os temidos incidentes com hooligans.

— Estamos felizes. Graças a Deus, não tivemos estresse, foi tudo tranqüilo. Mas a Copa ainda não terminou — disse a gerente da casa, que se identificou apenas como Vanessa.

Em Colônia, o movimento no maior bordel da Europa, que tem 11 andares dedicados à saliência, também ficou aquém do esperado. O Pascha chegou a decorar a fachada com as bandeiras dos 32 países do Mundial — ou quase, já que as do Irã e da Arábia Saudita foram escondidas com tinta preta para evitar conflitos com a comunidade islâmica.

— Futebol combina com cerveja, mas parece que o entrosamento com o sexo não é tão bom — arriscou o porta-voz da polícia local, Burkhard Jhan, antes de comentar que as prostitutas da cidade andavam aborrecidas.

Em Munique, os negócios começaram bem, mas a disposição dos visitantes caiu a partir das oitavas-de-final da Copa. Autoridades informaram que houve aumento de 60% no número de prostitutas durante a primeira fase, mas o movimento fraco levou a maioria a voltar mais cedo para casa. A Alemanha tem cerca de 400 mil profissionais do sexo registradas. Elas pagam impostos e recebem os mesmos benefícios de qualquer trabalhador.

domingo, julho 02, 2006

Jornalismo-verdade

Sozinha, garota clama por gols inexistentes e agora suspira pela Itália

XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Amigo torcedor, amigo secador, a "belle de jour" do centrão de SP, a nossa dublê da bela da tarde, não acreditava no futebol tão triste e feio que testemunhava sozinha, longe da histeria coletiva dos telões e das ruas, como representasse na frieza de ontem a pátria recolhida, a pátria lesada, os Tristes Trópicos em chuteiras, a pátria entregue de rouge e batom ao capricho francês. Ela nunca leu Paulo Prado, mas parecia dizer, com as sobrancelhas, sete palavras fatais: "Numa terra radiosa, vive um povo triste".

É lá naquela cama do hotel Metrópolis, ali com vista para o antijardim suspenso do elevado Costa e Silva, o Minhocão, arquitetura da destruição que enfeia a cidade babilônica como se um Niemeyer fosse um dia capaz de virar um Parreira, que a professora de inglês doravante denominada Danielle Souza, 23, comete as suas aventuras na pele de garota de programa. Lá, viu vários jogos, secou argentinos e alemães, vibrou com os "bonitões" da Itália, seus prediletos em se tratando de cosmética da bola. Na tarde fatídica de ontem, nenhum homem ao seu lado, quer dizer, só este cronista e o fotógrafo Jorge Araújo, com o distanciamento afetivo que pedia o tema.

"Um chute pelo amor de Deus", clamava a Belle de Jour ao deus Narciso, o espelho gigante que dividia seus olhos de ressaca -"ontem bebi demais!"- com a TV de 14 polegadas que resumia a tragédia à sua frente. A tela era grande demais para o futebol vira-lata dos brasileiros. Nem um homem apareceu no mundo de Danielle ontem. A pátria em chuteiras é bem família. A nossa bela era um raríssimo exemplo de quem vê o escrete da forma mais solitária. Na tarde gelada dos Tristes Trópicos até o mendigo "Sozinho", como se autodenomina nas suas placas de papelão, o pedinte ali da Frei Caneca com a Caio Prado, correu para o bar da esquina.

Não havia sequer um solitário a testemunhar a tragédia sozinho nem mesmo no edifício Copan, esta ilha concreta que bem poderia ser batizada de Carençolândia. Havíamos acertado, na manhã de ontem, previdente que somos, para ver o jogo com pelo menos seis solitários do prédio-cidade. Todos sucumbiram à tentação de homens cordiais e fugiram para bares ou lares repletos de outros brasileiros.

Na Copa, bate carência equivalente ou maior que o Natal e Ano Novo. "Desculpe, tiozinho, fiquei triste, vou ver com uns perdidos da praça Roosevelt", diz o travesti Joanna, borrado de verde-amarelo, mas sem esconder o pressentimento à Pelé: "Belle de jour c'est moi (bela da tarde sou eu), sinto o cheiro de sempre aqui no centro, aqui no Brasil, o cheiro de merda!".

E a pátria em chuteiras, velho Gilberto Vasconcellos, sucumbiu à síndrome de Caramuru, entregou suas Paraguaçus de mãos-beijadas, oui, oui, sim, sim!