dois perdidos numa noite suja

terça-feira, janeiro 29, 2008

Matérias nunca publicadas - Cap. LXVIII



BRASÍLIA. Inconformados
com o silêncio do governo
sobre a suposta presença de
discos voadores em territó-
rio nacional, integrantes da
Comissão Brasileira de Ufó-
logos organizam uma série
de protestos para exigir a li-
beração de documentos ofi-
ciais sobre visitantes de ou-
tro mundo. No fim de dezem-
bro, eles desembarcaram no
Palácio do Planalto para pro-
tocolar um requerimento de
66 páginas endereçado à
chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff. Sem resposta até
hoje, os caçadores de extra-
terrestres prometem recor-
rer até ao Supremo Tribunal
Federal com um habeas data
para a abertura dos arqui-
vos, que seriam mantidos em
sigilo pela Forças Armadas.

Os pesquisadores alegam
que uma lei sancionada em
2005 baixou para 30 anos o
prazo de salvaguarda de do-
cumentos ultra-secretos. A
mudança permitiria a divul-
gação dos registros sobre a
polêmica Operação Prato, de
1977, em que o Serviço Se-
creto da Aeronáutica foi à
Amazônia em busca de luzes
coloridas que geraram alvo-
roço em pequenos municí-
pios do Pará e do Maranhão.
O comandante da missão se
suicidou 20 anos depois, sem
desvendar o mistério.

— Essas naves entram e
saem do espaço aéreo brasi-
leiro todos os dias. O gover-
no tem muitas provas, mas
se recusa a divulgá-las —
protesta o ufólogo Ademar
José Gevaerd, que diz pes-
quisar o tema há 35 anos.

No documento entregue no
Planalto, os ufólogos citam
outros casos famosos como
os do ET de Varginha e da
chamada noite oficial dos
UFOs no Brasil, em maio de
1986, quando caças da FAB
decolaram das bases de San-
ta Cruz e Anápolis (GO) para
tentar interceptar objetos
não identificados que cruza-
vam os céus do país. A per-
seguição fracassou, mas pro-
vocou tantos rumores que o
então ministro da Aeronáuti-
ca, brigadeiro Otávio Morei-
ra Lima, convocou uma en-
trevista coletiva em Brasília
para tranqüilizar a popula-
ção. "A ignorância e a desin-
formação são fatores pre-
ponderantes para o estabele-
cimento do medo (...) e de
uma possível situação de
caos social", diz o requeri-
mento dos ufólogos.

Ex-presidente da Infraero, o
brigadeiro José Carlos Perei-
ra confirma a existência de
arquivos sobre ocorrências
estranhas na Aeronáutica e
diz apoiar sua divulgação.

— Tudo que é secreto gera
especulação. Mas os ufólo-
gos vão se decepcionar, por-
que quase tudo tem explica-
ção científica e todos nós sa-
bemos que os discos voado-
res não existem — afirma.

Enquanto a controvérsia não
é esclarecida, os ufólogos
usam a internet para alimen-
tar a campanha "UFOs — Li-
berdade de Informação Já",
com logotipo inspirado na
marca do Fome Zero. A
maior parte dos pesquisado-
res se divide entre o hobby e
profissões comuns, mas Ge-
vaerd, organizador da cara-
vana ao Planalto, dedica-se
integralmente ao assunto:
edita uma revista especiali-
zada com tiragem mensal de
30 mil exemplares e coman-
da o Centro Brasileiro de
Pesquisas de Discos Voado-
res, que já teria 3.300 filia-
dos. O site do órgão informa
que a anuidade, com direito
a carteirinha de plástico per-
sonalizada e desconto na
compra de brindes e camise-
tas, custa R$ 47,50. Para se
inscrever, é preciso ter mais
de 12 anos de idade.

A Casa Civil informou que o
requerimento não lhe dizia
respeito e foi encaminhado
aos ministérios da Defesa e
da Justiça. A Aeronáutica
não quis se manifestar sobre
a campanha.