dois perdidos numa noite suja

sexta-feira, março 16, 2007

E no meu caminho / o tempo é cada vez menor



Dei a partida tardia na biographia do Rei e decidi partilhar com vocês, leitoras juvenis, o som que embala a noite meio triste nesse cantinho do Jardim Botânico. O YouTube, sempre solícito, dessa vez não ajudou com o original.

Então, com vocês... Carlos Roberto!

terça-feira, março 13, 2007

Pierrot não foi ao baile do Municipal



"Que pena! Pierrot não veio ao baile!"

O lamento da colombina alegre num camarote do Teatro Municipal despertou a atenção do repórter. Sim, onde estaria o tradicional pierrot dos bailes do Municipal? Como a colombina, muitos foliões notaram a ausência do luxuriante pierrot, cuja presença era sempre notada no tradicional baile e que chegou a ser premiado no ano passado. Zacarias Rêgo Monteiro, o famoso pierrot, estava, à hora do desfile, triste, num aposento de hotel, o rádio desligado. Convalescia de uma enfermidade. Sozinho, remoía lembranças de outros carnavais.

Zacarias atende o repórter à porta de seu apartamento. Doente, atendia à recomendação do médico. Estivera em cura num sítio em Petrópolis, mas descera na manhã de sábado, saudoso de Momo. Não saíra, porém do hotel. Não se fantasiara, não bebera nada.

- Voltarei ao baile no próximo ano, de pierrot e de bandolim à mão, como gosto e como gostam.

Nem pelo rádio o pierrot sentiu o baile do Municipal. Apenas imaginou-se folião. Em 1958, porém, Zacarias voltará a ser o pierrot mais chique do elegante baile. É o que promete e o que cumprirá o seu espírito carnavalesco.

O Globo, 07/03/1957.

domingo, março 11, 2007

Ei, Toró, vai...



Na saída do Maracanã, conversando com um jovem cineasta, tentávamos teorizar sobre a estranha obsessão do torcedor por uma parte obscura da anatomia humana.

Inúmeros palpitólogos já dissertaram sobre o futebol como válvula de escape para o trabalhador oprimido pelo capitalismo industrial, que espera o fim de semana para dar vazão à sua fúria revolucionária chutando a cabeça do adversário e dirigindo ofensas impublicáveis ao homem de preto. Mas poucos parecem ter chegado a essa que é a verdadeira e freudiana fixação do arquibaldo: o rabo alheio.

Apesar de não partilhar dessa instigante pulsão, devo admitir que não segurei a risada ao ouvir, do irmão-de-fé a alguns metros de distância, um vaticínio amargo para o marrento camisa 10 do time reserva que bateu ontem o brioso Nova Iguaçu por 2 a 1:

- Ei, Toró, volta pro Fluminense e vai dar o cu pro Branco!

***

Ainda nas imediações do Maior do Mundo, impressionou-me sobremaneira a retórica do flanelinha em busca de uns trocados:

- Ali não tem reboque não! Palavra de sujeito homem!

Acabei aceitando a vaga.

***

Por último: acerca das testemunhas da peleja, chutei quatro mil, a Suderj informou 4.194. Quando for demitido do jornal, já posso pleitear emprego na seção de demografia estimada do IBGE.

sexta-feira, março 09, 2007

Renight, de novo



A princípio, Romário ficaria no banco de reservas no jogo contra o Madureira, neste domingo, em São Januário. Mas devido às dores musculares que o atacante André Dias sentiu durante a semana e a vontade juvenil exibida pelo quarentão Romário, o técnico Renato Gaúcho se rendeu ao Baixinho e garantiu sua escalação entre os titulares para a estréia na Taça Rio. Leandro Amaral será o companheiro de ataque.

- Ele chegou hoje louco para jogar e não vou tirar doce da boca de criança - disse Renato Gaúcho.

sexta-feira, março 02, 2007

Operário da notícia

Ana Carolina Fernandes


Veja, estimada leitora, a merda que eu fiz hoje para conseguir matéria. Quer dizer: também fiz ontem, mas dessa vez foi fotografada. Estamos ali mesmo, na Linha Vermelha, a duas pistas do bucólico Complexo da Maré. Pelo menos rendeu a suíte do Opalão 82. Que será publicada, com um pouco mais de dignidade, no jornal de sexta.

quinta-feira, março 01, 2007

Opalão flutuante



Escrevi em casa, em 20 minutos. Cortaram na redação, em menos de 20 segundos. Ficou uma bosta. Aqui pelo menos era engraçado.

***

"Estava faltando a garagem". Assim o biscateiro Luiz Fernando Queiroz, de 40 anos, explica a nova aquisição para sua casa flutuante no Canal do Cunha, um dos pontos mais poluídos da Baía de Guanabara. Há poucos dias, ele estacionou um Opala 82 sobre um deck de garrafas pet e isopor. O carro virou atração para motoristas que passam buzinando pela Linha Vermelha.

- Agora só preciso de um jet-ski - planeja Luiz, um ex-morador do Complexo da Maré que garante ter lido 500 livros e se diz autor do bordão "Eu sou o cara", repetido pelo craque Romário.

Há um ano, quando O GLOBO mostrou sua primeira morada no canal, a Serla o convenceu a destruir o barraco de madeira. Mas ele mudou de idéia e ergueu uma nova casa de alvenaria, inspirada nos subúrbios americanos: jardim de grama sintética, sofá de couro, tapete de lã ("de cabritos dos Alpes", explica) e até uma banheira de hidromassagem. Tudo retirado da Baía.

Expulso de uma igreja evangélica por dizer que Deus era alienígena e Jesus o primeiro bebê de proveta, Luiz diz não se importar com o mau cheiro e os mosquitos que rondam o lugar e sonha fazer um filme sobre a violência na Maré. Enquanto isso, capricha no discurso ecologicamente correto:

- Está vendo essas mudas? Vou plantar para reduzir o aquecimento global.