dois perdidos numa noite suja

sexta-feira, abril 28, 2006

Craque

É isso aí, meus filhos. Leiam Lima Barreto. O resto é periferia.

***

Fui encontrá-lo lá, mas o meu amigo se havia afastado do ruidoso cenáculo do fundo; e ficara só a uma mesa isolada.

Pareceu-me triste e a nossa conversa não foi logo abundantemente sustentada. Estivemos alguns minutos calados, sorvendo aos goles a cerveja consoladora.

O gasto de copos aumentou e ele então falou com mais abundância e calor. Em princípio, tratamos de coisas gerais de arte e letras. Ele não é literato, mas gosta das letras, e as acompanha com carinho e atenção. Ao fim de digressões a tal respeito, ele me disse de repente:

— Sabes por que não me mato?

Não me espantei, porque tenho por hábito não me espantar com as coisas que se passam no chope. Disse-lhe muito naturalmente:

— Não.

— És contra o suicídio?

— Nem contra, nem a favor; aceito-o.

— Bem. Compreendes perfeitamente que não tenho mais motivo para viver. Estou sem destino, a minha vida não tem fim determinado. Não quero ser senador, não quero ser deputado, não quero ser nada. Não tenho ambições de riqueza, não tenho paixões nem desejos. A minha vida me aparece de uma inutilidade de trapo. Já descri de tudo, da arte, da religião e da ciência.

O Manuel serviu-nos mais dois chopes, com aquela delicadeza tão dele, e o meu amigo continuou:

— Tudo o que há na vida, o que lhe dá encanto, já não me atrai, e expulsei do meu coração. Não quero amantes, é coisa que sai sempre uma caceteação; não quero mulher, esposa, porque não quero ter filhos, continuar assim a longa cadeia de desgraças que herdei e está em mim em estado virtual para passar aos outros. Não quero viajar; enfada. Que hei de fazer?

Eu quis dar-lhe um conselho final, mas abstive-me, e respondi, em contestação:

— Matar-te.

— É isso que eu penso; mas...

A luz elétrica enfraqueceu um pouco e cri que uma nuvem lhe passava no olhar doce e tranqüilo.

— Não tens coragem? - perguntei eu.

— Um pouco; mas não é isso o que me afasta do fim natural da minha vida.

— Que é, então?

— É a falta de dinheiro!

terça-feira, abril 04, 2006

Governadora com H


Tio Patinhas para governador

O Rio de Janeiro tem que resgatar o princípio da autoridade. Quem senta naquela cadeira tem que ter a moeda número um do Tio Patinhas.

Denise Frossard, em programa de aluguel da CNT

domingo, abril 02, 2006

O Gagarin que merecemos


Marcos Pontes, o astronauta brasileiro: celebridade instantânea

O novo candidato a herói nacional é um senhor grisalho, de meia-idade e aparentemente acima do peso. Na madrugada do dia 1º, o coronel Marcos Pontes chegou à Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8. Com uma bandeira verde-amarela na mão, tornou-se o primeiro brasileiro a ganhar o espaço – 45 anos depois de Yuri Gagarin entrar em órbita e 37 anos depois de Neil Armstrong pisar na Lua.

Pontes decolou para a fama em velocidade recorde. Há uma semana, pouca gente tinha ouvido falar no coronel de Bauru, pequena cidade no interior de São Paulo conhecida por batizar um sanduíche de queijo, presunto e ovo. A imprensa enviou repórteres e fotógrafos para registrar o lançamento do foguete da base de Baikonur, no Cazaquistão. Por uma semana, a odisséia espacial brasileira reduziu as manchetes dedicadas às eleições em Israel e aos bombardeios e atentados no Iraque.

No país, cientistas respeitados criticaram o gasto de US$ 10 milhões, em recursos federais, para financiar a ida do brasileiro ao espaço. Nos oito dias em órbita, Pontes vai se dedicar a experimentos como o crescimento do feijão em algodão num ambiente de microgravidade. Em ano eleitoral, no entanto, o vôo pode garantir dividendos nas urnas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta novo mandato em outubro.

Em entrevista ao “Jornal Nacional” direto da ISS, o astronauta brasileiro disse que a visão do planeta lembrou os olhos azuis da mãe. Antes da despedida, Pontes mostrou ter decorado a cartilha de Bono Vox, o megastar que interrompe shows para pedir o fim da guerra e defender ações humanitárias na África. “Quando você olha para a Terra e vê uma coisa bonita mas sem fronteiras, você realmente vê o sentido exato das palavras Nações Unidas ou planeta único”, discursou.

(publicado no palmalouca.com)

sábado, abril 01, 2006

TFP no poder


Lembo: De presidente da Arena a governador de São Paulo (bem-feito!)

Folha - Qual é o lugar que o PFL deve ocupar no eleitorado?
Lembo - O PFL tem que ter muito nitidamente um traço: um partido conservador. O que falta no Brasil é a coragem de se afirmar conservador. (...)

Folha - Como se traduz esse conservadorismo no seu dia-a-dia?
Lembo - Respeito ao outro, não ser promíscuo. Tenho visto nos noticiários muita promiscuidade.

Folha - Por que o estilista não daria o vestido para a sua mulher?
Lembo - Não daria pelo estilo da minha mulher. Ela é uma mulher do lar, fechada, que não tem grande presença social nem quer ter.

Folha - O sr. bebe?
Lembo - Socialmente.

Folha - Já usou psicotrópicos?
Lembo - Nunca.

Folha - O sr. casou virgem?
Lembo - Casei virgem. E sou fiel.

Folha - O sr. reza todos os dias?
Lembo - Eu penso.

Folha - Qual o seu lugar preferido em São Paulo?
Lembo - O Pátio do Colégio. O centro da cidade. Eu pego meu carrinho, um [Ford] Ka, e vou todo fim de semana sozinho, ou com minha mulher, correr o centro histórico loucamente, porque é sempre a mesma coisa. Eu gosto daquilo, eu acho bonito.