dois perdidos numa noite suja

quinta-feira, março 01, 2007

Opalão flutuante



Escrevi em casa, em 20 minutos. Cortaram na redação, em menos de 20 segundos. Ficou uma bosta. Aqui pelo menos era engraçado.

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"Estava faltando a garagem". Assim o biscateiro Luiz Fernando Queiroz, de 40 anos, explica a nova aquisição para sua casa flutuante no Canal do Cunha, um dos pontos mais poluídos da Baía de Guanabara. Há poucos dias, ele estacionou um Opala 82 sobre um deck de garrafas pet e isopor. O carro virou atração para motoristas que passam buzinando pela Linha Vermelha.

- Agora só preciso de um jet-ski - planeja Luiz, um ex-morador do Complexo da Maré que garante ter lido 500 livros e se diz autor do bordão "Eu sou o cara", repetido pelo craque Romário.

Há um ano, quando O GLOBO mostrou sua primeira morada no canal, a Serla o convenceu a destruir o barraco de madeira. Mas ele mudou de idéia e ergueu uma nova casa de alvenaria, inspirada nos subúrbios americanos: jardim de grama sintética, sofá de couro, tapete de lã ("de cabritos dos Alpes", explica) e até uma banheira de hidromassagem. Tudo retirado da Baía.

Expulso de uma igreja evangélica por dizer que Deus era alienígena e Jesus o primeiro bebê de proveta, Luiz diz não se importar com o mau cheiro e os mosquitos que rondam o lugar e sonha fazer um filme sobre a violência na Maré. Enquanto isso, capricha no discurso ecologicamente correto:

- Está vendo essas mudas? Vou plantar para reduzir o aquecimento global.

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