Calma, chuchu
Hoje fugi de vereadores, secretários, promotores e assessoras de imprensa para conversar com o Fausto Fawcett no Cervantes. Patrono de uma dinastia de louras, ele conhece seu talento de frasista e faz pausas estratégicas para que o repórter tenha tempo de anotar a próxima pérola. E não tem jeito: o que diz é tão engraçado que não há como omitir no papel. O mote é a peça Cidade Vampira, cuja heroína é inspirada em ninguém menos que Suzane von Richthofen. Separamos alguns trechos só para você, jovem leitora do insonia. Veja só:
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Sobre os jovens:
- A juventude acabou. Nos anos 50, achavam que tudo estava na mão dos jovens, e eles se mostraram seres humanos como todos os outros: imbecis.
Sobre Freud e a psicanálise:
- São os sobrinhos do patológico: Euzinho, eguinho e selfzinho.
Sobre o repórter policial da peça:
- Ele segue o lema dos Humanistas Anônimos: "Há 2.254 dias deixei de desejar um mundo melhor".
Sobre a democracia:
- É um garoto jogando bolinha no sinal. Uma bolinha é a anarquia da favela, a outra é a tirania das máfias. Uma passando a mão na bunda da outra.
Sobre o Hamlet dos nossos dias:
- O Hamlet contemporâneo não segura mais a caveirinha. Fica com um celular averiguando a quantas andam os seus sentimentos: 10% amor, 90% ódio dos pais.
Ainda sobre Hamlet, e sobre a vida:
- Ser ou não ser virou privilégio dos travestis.
Sobre a vida, de novo:
- Depois dos 40, quem ainda fica com papo juvenil tem que sacar o FGTE, o Fundo de Garantia por Tempo de Existência.
Ainda sobre a vida, agora aos 50 anos:
- Augusto dos Anjos que me perdoe, mas meu poeta favorito agora é Sérgio Franco. O laboratório.
E a moral da história:
- Você está nervosa porque o sociopata se tornou o herói contemporâneo? Calma, chuchu.
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Agora, viva o YouTube, aproveite para ouvir Básico instinto com uma quase escandinava Paula Toller e um ainda jovem Fausto Fawcett, direto de algum lugar dos anos 80.