dois perdidos numa noite suja

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Órfãos - versão do diretor

Aqui começamos uma série de matérias que você não leu no jornal. Essa saiu picotadinha no domingo, embaixo do Elio Gaspari. Em breve, contribuições preciosas de Mr. Aedes



Tem caudilho no samba
Brizolistas organizam bloco para homenagear ex-governador no carnaval

O trabalhismo, quem diria, acabou em samba. Um ano e meio depois da morte de Leonel Brizola, militantes animados preparam um bloco para homenagear o ex-governador no carnaval. O itinerário já está definido: os Órfãos de Brizola partem da Cinelândia, tradicional reduto pedetista, rumo ao Palácio do Catete.

- É o símbolo da presidência da República, que Brizola nunca alcançou. Já que dançamos na política, só nos resta sambar - brinca a socióloga Helena Maranhão, idealizadora do bloco.

Na quarta-feira, os organizadores se reúnem num bar da Cinelândia para escolher o samba-enredo que vai embalar o desfile. Marido de Helena e líder informal do grupo, o programador visual Luiz Fernando Gerhardt sonha convidar a sambista Beth Carvalho para ser a madrinha do bloco.

- Não estarei no Rio, mas fico muito honrada com o convite. O samba sempre teve engajamento político - ressalta a artista.

Segundo Gerhardt, os Órfãos de Brizola vão aproveitar a festa para lembrar que permanecem fiéis ao ideário trabalhista. Ele admite que precisa correr contra o tempo para organizar o desfile, mas assegura que o bloco estará na rua no dia 23:

- Já montamos comícios para milhares de pessoas em um dia. Organizar um bloco de carnaval em duas semanas será fácil - garante.

No encontro de quinta-feira, os foliões ganharam a adesão de outros órfãos que passavam pela Cinelândia e foram atraídos por camisetas com a imagem do ex-governador. Compositor e dono da barraca Artista do 13, na Rua Alcindo Guanabara, o vendedor Edilson Lourival lembrava os tempos em que a luta política transformava a praça em arena de guerra:

- Quem não defendesse o Brizola entrava no pau. Já vi muita cadeira do Amarelinho voar durante as discussões.

Sobrevivente da Brizolândia, a professora aposentada Marly Koplin bate ponto há mais de dez anos na escadaria do Palácio Pedro Ernesto. Moradora de Vista Alegre, cobre uma mesinha de plástico com a bandeira do PDT para distribuir panfletos e adesivos com a inscrição “Brizola vive”. Desconfiou da idéia de transformar o ex-governador em samba, mas acabou concordando.

- Se é pelo Brizola, vale tudo - emociona-se.

Autor de um livro sobre o brizolismo, o cientista político João Trajano Sento-Sé, da Uerj, elogia a decisão de não vincular o bloco ao PDT. Para ele, o ex-governador liderou um movimento popular espontâneo, que não se enquadrou apenas na retórica partidária.

- Brizola distribuía apelidos para adversários, tinha um estilo irreverente que permitia a identificação das massas pela galhofa, pela brincadeira. Tem tudo a ver com o carnaval - decreta.