O estilo Piquet
Hockenheim, 8 de agosto de 1982. Na luta pelo bicampeonato com a Brabham, Nelson Piquet larga em quarto, assume a ponta do GP da Alemanha e abre 25 segundos sobre a Ferrari de Patrick Tambay. Na 19ª volta, o impensável: o retardatário Eliseo Salazar, que se arrastava com uma lenta ATS, força a freada na chicane e tira o brasileiro da corrida. Enloquecido, Piquet parte para cima do chileno e o ataca com empurrões e pontapés transmitidos ao vivo para todo o mundo.
Hungaroring, 10 de agosto de 1986. Ayrton Senna larga na pole com a Lotus, é ultrapassado pela Williams de Piquet e retoma a ponta nos boxes. Piquet passa a persegui-lo pelo traçado lento, que só permite ultrapassagens no fim da reta. Na 54ª volta, Senna espreme o rival contra o muro dos boxes, retarda a freada e é ultrapassado, mas mantém a preferência na curva e recupera a posição. Os pilotos permanecem colados nas duas voltas seguintes, até que Piquet força a passagem por fora, freia além do limite e ultrapassa a Lotus de lado, com os pneus travados. Liderança garantida, ergue o dedo médio para o compatriota.
As cenas resumem o estilo de um piloto veloz e irreverente que, apesar do tricampeonato na Fórmula 1 (1981-83-87), dividiu os fãs brasileiros de velocidade.
Piquet x Senna: "Ele não gosta de mulher"
Em março de 88, depois do terceiro título, Piquet amargava uma temporada de quebras e derrotas na Lotus. Senna, que começava a vencer na McLaren, aproveitou a moblilização do GP do Brasil, em Jacarepaguá, para provocá-lo: "Já que ninguém gosta muito dele, o único jeito era eu sumir para que ele pudesse aparecer um pouco". Irritado, Piquet chamou um repórter ao box da equipe e disparou a frase que perseguiria o rival até a morte: "Ele não gosta de mulher".
Quase doze anos depois do acidente fatal de Ayrton, em maio de 94, a rivalidade ainda gera discussão no meio automobilístico e na internet. A comunidade "Piquet foi melhor do que Senna" reúne mais de 2 mil piquetistas no orkut. Para eles, os fãs de Ayrton são "viúvas" e se recusam a aceitar que ele usou a imagem de bom moço para conquistar a simpatia da imprensa. Os sennistas contra-atacam na comunidade "Eu odeio Nelson Piquet", com quase 400 integrantes. Lá, o adjetivo mais simpático sobre o tricampeão é invejoso.
Comparações à parte, a ascensão de Senna veio junto ao declínio de Piquet. Ayrton venceu o primeiro campeonato em 88, um ano depois de o bad boy conquistar o último título. No entanto, foi com Nigel Mansell, companheiro na Williams entre 86 e 87, que Piquet travou o duelo mais acirrado da carreira.
Piquet x Mansell: "Ele gosta de mulher feia"
O brasileiro teve que manobrar nos bastidores e apelar à guerra de nervos para indispor o rival com parte da equipe inglesa. Piquet fez de tudo para irritar Mansell. "Temos duas diferenças. A primeira é que eu venci dois campeonatos e ele perdeu dois. A segunda é que eu gosto de mulher bonita e ele gosta de mulher feia", provocou, em 87. Na véspera do GP do México do mesmo ano, quando o inglês reclamava de desinteria, escondeu o papel higiênico do box.
A língua afiada divertia os fãs, mas fechava portas ao piloto. Em 88, Piquet descartou uma transferência para a escuderia italiana ao debochar do comendador Enzo Ferrari ("O velho está totalmente gagá"). Na mira do brasileiro, que se notabilizou por usar conhecimentos de mecânica para explorar brechas no regulamento, estiveram outros cartolas como Bernie Ecclestone, chefe na Brabham, e Jean-Marie Ballestre, ex-presidente da FIA.
Piquet aprendeu os segredos na oficina em que trabalhava na adolescência, quando corria de kart escondido dos pais e esperava o fim de semana para surrupiar carros em conserto e competir pelo Brasil. Em 1974, trabalhou de graça nos boxes da Brabham num GP extra em Brasília. "Você não serve nem para limpar um capacete", reclamou o argentino Carlos Reutemann. O troco veio sete anos depois, quando Piquet conquistou o primeiro título na F1 um ponto à frente do argentino: "Eu não sirvo para limpar o teu capacete, mas talvez você possa limpar o meu, que é de campeão do mundo".
Original no palmalouca.com
2 Comments:
Nelson Piquet: como piloto, fantástico, mas como pessoa é um grande babaca.
By Anônimo, at 8/1/12 01:43
Apesar de achar o Piquet um babaca como pessoa, como disse no comentário anterior, em um ponto ele tinha razão: Jean-Marie Balestre, ex-presidente da FIA, era um sem vergonha, um canalha de marca maior. É só lembrarmos como ele manipulou resultados pra favorecer pilotos franceses.
By Anônimo, at 8/1/12 01:49
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