dois perdidos numa noite suja

domingo, fevereiro 19, 2006

Complexo de vira-latas



O show dos Rolling Stones em Copacabana trouxe à tona, com toda a força, o que o velho Nelson identificou como um dos traços mais marcantes da nossa personalidade: o complexo de vira-latas.

Esse sentimento de inferioridade explica a ânsia de organizar o maior show da História, construir a maior obra do mundo, abrir a maior rodovia do planeta - mesmo que ligue o nada a coisa alguma, como a famigerada Transamazônica.

Os popstars, que não são bobos, surfam na onda. E tome camisa da seleção, palavrinhas em português e, apelação máxima, uma bateria de escola de samba na hora do bis.

Ontem, em Copacabana, um cara que assistiu ao show ao meu lado passou horas elogiando a camiseta com a bandeira do Brasil que o sexagenário usou nas últimas músicas.

Hoje tá lá, na primeira página do Dia, em caixa alta:
MICK JAGGER DECLARA SEU AMOR AO RIO.

Queria ver publicarem que os Stones chegaram na madrugada de sexta, mudaram o trajeto para não passar pela Linha Vermelha, ficaram dois dias confinados no hotel, sob forte esquema de segurança, e se mandaram hoje à tarde direto para o aeroporto.

O maior espetáculo da Terra foi o 55º show da turnê A Bigger Bang, que aportou no último sábado em Porto Rico.

Próxima escala: Buenos Aires.

3 Comments:

  • O grande mal do Brasil é gente com esse tipo de visão derrotista, quem culpa os Rolling Stones por evitarem a linha vermelha e ficarem trancados no hotel em uma cidade onde a cada ano morrem 55 mil pessoas assassinadas e subindo? Se eu estivesse no lugar deles faria exatamente o mesmo.

    O show que entrou pra história mundial dos espetáculos serviu para que em uma das raras oportunidades o Rio de Janeiro fosse noticia na CNN, na BBC e em várias emissoras do mundo todo sem mostrar violência mas sim um show que graças a Deus terminou bem.

    Sinceramente eu estava esperando uma tragédia ao se juntar mais de um milhão de pessoas em uma cidade com a fama de violenta como o Rio de Janeiro e acabei ficando com a impressão que a coisa ainda não está totalmente perdida pro Rio e tenho certeza que muitos gringos que assistiram em seus paises as imagens do show também mudaram um pouco essa imagem de cidade sangrentas que o Rio adiquiriu ao longo dos ultimos anos.

    Na minha opnião foi uma grande e inteligente sacada organizar este show neste exato momento do ano em que o Rio precisa de publicidade positiva para atrair turistas pro carnaval e tenho certeza que o objetivo foi alcançado.

    É como diz aquela velha parabola dos vendedores:

    "Um dono de uma sapataria queria instalar uma nova loja em uma cidade do interior do Brasil, para saber se o negócio daria certo ele enviou dois vendedores.

    O primeiro retornou e fez o seu relatório seu patrão: "Chefe desista da idéia lá naquele cidade todo mundo anda descalço, ninguém usa sapato"

    O segundo retornou e fez seu relatório ao patrão: "Chefe vá enfrente, a cidade é uma mina de ouro pra sapataria! Lá ninguém ainda tem sapatos!"

    Portando é tudo uma questão de ponto de vista.

    By Anonymous Anônimo, at 19/2/06 20:42  

  • Não se trata de culpar os Rolling Stones por se trancarem no hotel.

    O que motivou a nota, estimado leitor, foi nossa necessidade de afirmação pelo olhar estrangeiro (veja aí, no seu texto, a importância dada à oportunidade de aparecer na CNN "sem mostrar violência").

    O tom da cobertura ufanista deu a exata medida do provincianismo brasileiro - essa sim, uma visão derrotista.

    O show foi ótimo, isso não está em questão.

    Mas foi ótimo por causa dos Rolling Stones, e não porque "o Rio precisa de publicidade positiva para atrair turistas pro carnaval".

    Aliás, como você deve saber, ninguém marca viagem internacional para a semana seguinte. A não ser no próprio avião.

    By Blogger bravomikefoxtrot, at 19/2/06 21:25  

  • Uau, MF, vc tá quase igual ao JXB e ao Moreno, atacados diariamente pelos leitores do blogue!!
    São os males da fama! Daqui a pouco tá até fazendo filho na Gimenez!

    bjs

    By Anonymous Anônimo, at 20/2/06 20:00  

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