dois perdidos numa noite suja

quarta-feira, setembro 28, 2005

Sombra e água fresca



Chapéu panamá, gravata borboleta, guarda-chuva. Vestido de malandro, Zé Carioca, o personagem brasileiro de Walt Disney, apareceu nos quadrinhos americanos em 1942. No ano seguinte, estrelou o filme Saludos amigos, passado na América Latina.

Com a Europa em guerra e os estúdios em greve, o criador do Mickey resolveu investir no continente - que já contava com simpatia e dólares do governo americano, empenhado em substituir o big stick pela Política da Boa Vizinhança. O Pato Donald foi escalado para contracenar com Zé, formando o trio com o galo mexicano Panchito.

O papagaio brasileiro foi uma espécie de precursor da Lei de Gerson: caloteiro e preguiçoso, roubava o sorvete do Donald, fazia exame de vista de binóculo e montava barraca para ensinar a ganhar a vida sem esforço. Os trambiques fizeram sucesso e, em 1961, Zé Carioca ganhou sua própria revista.

Nos anos 70, o feitiço virou contra o feiticeiro: numa malandragem da Disney, o papagaio passou a protagonizar histórias adaptadas do Pato Donald. Assim surgiram os sobrinhos Zico e Zeca, que substituíam Huguinho, Zezinho e Luizinho.

O estilo politicamente incorreto voltou até a revista sumir novamente, no fim dos anos 90. As melhores histórias de Zé Carioca estão nas bancas em edições mensais da Abril. Na internet, fãs do papagaio fazem coro pela publicação de quadrinhos inéditos.