dois perdidos numa noite suja

domingo, julho 03, 2005

Símbalo sexual


cauby e as mulheres: "ando pela rua flertando com elas"

(...) Cauby Peixoto é um personagem. Acontece que ele nunca desce do palco. Digamos que, já faz muito tempo, sua pessoa física foi engolida pela jurídica. Um exemplo para entender esse estranho processo: quando chega ao quarto do hotel, fecha a porta e fica sozinho, ele continua sendo o mesmo Cauby Peixoto, preocupado exclusivamente com música, acocorado sob suas perucas importadas. Não tem nenhum outro interesse. Se você pensava que as roupas extravagantes de Cauby eram apenas o resultado de um trabalho de figurinistas - e que de repente ele se vestia como um sujeito comum quando ia, por exemplo, ao clube -, engano seu. Hoje Cauby se apresenta no Brahma em ternos pretos e bemcortados. Agora, para vê-lo mucho loco, o caro leitor terá de encontrá-lo à paisana. 'Eu não tenho um personagem', diz. 'Eu sou um personagem.' Esse personagem que engoliu a pessoa física do Cauby - o Cauby Peixoto Barros - é um tipo que dorme e acorda muito tarde. Não é um cara chegado à boemia, como se poderia pensar num primeiro momento.

Não bebe, não fuma, não cheira - ao contrário de Tim Maia, parece não mentir sobre esses assuntos. É apenas um sujeito que vive 'uma vida completamente diferente das pessoas normais'. Desde que chegou a São Paulo, vai do Brahma para o Hotel Excelsior, do Hotel Excelsior para o Brahma. Um fica de frente para o outro.

'Eu sou muito popular, querido e amado. Então eu tenho muito conhecido na rua. Tenho de parar, dar autógrafo... Eu até gosto, mas aí vai juntando gente... Você veja que outro dia até fui à casa de uns amigos. Mas não me adapto mais a grupinhos, o papo já não me agrada. Se eu fosse ninguém, talvez me agradasse... Mas diante do Cauby todo mundo quer se afirmar.' Não sendo ninguém, Cauby é alguém que passa as horas no quarto. (...)

Cauby só foi se tornar Cauby em meados da década de 50, quando o empresário Edson Veras, o Di Veras, 'encontrou em mim o cantor que gostaria de ser'. Levado à Rádio Nacional do Rio de Janeiro, virou uma estrela de dimensões inéditas para o cenário brasileiro, apontado à época pela revista americana Time como um exemplo dos muitos Elvis que se espalhavam mundo afora - conquistando sobretudo o coração das mulheres. 'Elas diziam: ´Tenho de ver Cauby, tenho de ver Cauby!´ E iam todas elas. Aí os namorados brigavam. Porque é chato mesmo, né? Você tem uma namorada e ela começa a falar de um Brad Pitt... Desagradável.'

Essa relação de Cauby com as mulheres - que, conforme veremos, talvez não chegasse às vias de fato - foi sendo aprimorada por uma peculiar tática de sedução. 'Um dia o Di Veras me disse: ´Você estava olhando para duas garotas. Olhe para todas´. Então passei a flertar sem discriminar nenhuma delas. Podia ser a gordinha, a mais escurinha, não importava - era tudo meu. Foi assim que eu comecei a crescer, a conquistar as meninas de outros fã-clubes. Até hoje continuo fazendo assim: eu ando pela rua flertando com elas.' Ao que parece, a mesma estratégia não se aplica a quartos de hotel, onde certa vez encontrou, debaixo da cama, uma mulher pelada: 'Quero ser sua! Quero ser sua!' Não se dispondo ao intercurso com uma fulana que talvez Bob Jefferson se referisse como sendo do tipo horizontal, apontou o dedo: 'Saia já daqui'. (...)

(O mundo de Ron Coby - Fred Melo Paiva, Estadão, 3.7.2005)