dois perdidos numa noite suja

quinta-feira, maio 19, 2005

Nossa correspondente no inferno, digo, no Riocentro


leitores contribuem para o desmatamento

O objetivo deste blogue era falar de mulher, e não deixar que elas abram o bico. Mulher já fala demais. Em ocasiões inoportunas. Em tom estridente. Em assuntos dispensáveis. Para confirmar a regra, há exceções. Rainha da bateria e porta-bandeira desta escola, nossa intrépida correspondente em JacaCity, outrora Miss Campos dos Goytacazes, nos conta algumas coisas sobre o estranho mundo da Bienal do Livro.

Fora das grandes editoras e da programação fina do café literário, o que resta na Bienal são muitos livros espalhados por bancadas e estantes, poucos organizados de maneira inteligível. Andando pelos corredores, lotados de crianças barulhentas e suadas, é possivel encontrar bizarrices que nos fazem ter pena da quantidade de arvorezinhas transformadas em papel.

Entre as promoções, um livro que ensina como se vestir para parecer mais alta (com 100 páginas!!!). À altura de seu preço : R$ 2. No mesmo balcão, o leitor pode ser divertir com Pornografia - uma resposta cristã. No prefácio, o autor deixa claro que o objetivo da leitura é ensinar os cristãos como são infundados e relativos os argumentos em favor da liberação sexual da mídia. Por apenas R$ 1,99, você aprende a ajoelhar e rezar.

No estande de cordel, xilografias do Kama Sutra. Um ode ao bom gosto sexual, perfeito para enfeitar paredes. Os mais místicos podem comprar previsões, baralhos de tarô, fazer mapa astral ou ainda anuários passados. Mas por favor, quem compraria um anuário de astrologia de 2002, por R$ 38 ?

Em um estande onde repousam centenas de exemplares do mesmo livro, um cartaz com HOLOCAUSTO em garrafais convoca os brasileiros a criar leis de proteção às crianças. Após a leitura, o aviso: "haverá apenas duas alternativas, a omissão ou ação". Alguém consegue imaginar outra reação possível?

Outro estande de um livro só é o libanês Chef Ramzi, que convida o leitor a conhecer a deliciosa culinária árabe. São dezenas de metros com bonitas meninas de sobrancelhas grossas oferecendo o livro. Um apanhado de receitas como tabule e marzipã por R$ 150. Às moscas, o espaço libanês desperta pensamentos turcos e evoca o país homenageado dessa edição: carteira fechada e saída à francesa.