dois perdidos numa noite suja

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Lembo é o cara



O governador Cláudio Lembo (PFL) quebrou uma tradição de família neste Natal. Pela primeira vez em muitos anos, ele mesmo não montou o presépio que herdou de seu pai na residência da rua Itararé, centro da capital. No Palácio dos Bandeirantes, onde está morando, "é muito frio e só tem uma arvorezinha de Natal", diz.

Apaixonado por presépios, o governador tem uma coleção com mais de uma centena. No sábado retrasado, recebeu a Folha para mostrá-los e contar um pouco das histórias.

Seu favorito, pelo valor sentimental, está logo na entrada. Todo de barro, com dezenas e dezenas de peças, o presépio que seu pai montava há setenta anos sobrevive. "Deixaram ele meio pobre nesse ano, falta areia, falta pedra. Quando eu monto, fica mais bonito", diz.

Ele lembra que, todo fim de ano, o pai fazia questão de colocar as peças e chegava até a fazer o moinho funcionar com água de verdade. "Era uma beleza, ele montava tudo em uma mesa bem grande."

O presépio do pai do governador é tradicional, feito de barro. "Hoje, a gente encontra tudo de plástico por aí. Nem Jesus Cristo mais tem qualidade."

Ele conta que, com o início da Teologia da Libertação, nos anos 70, os presépios caíram em desuso. "Os padres de esquerda afastaram o presépio. Agora eles voltaram porque simbolizam a família", explica.

Lembo nunca achou que presépio estivesse fora de moda e continuou colecionando. Ele tem tantos, espalhados por toda a casa, que mal dá para contar. Há exemplares feitos de madeira, outros de marfim e até um presépio negro. Muitos, ele mesmo comprou.

Outros, amigos e admiradores deram de presente ao saber da coleção. "Não me lembro quando ganhei o primeiro. Agora, todo mundo me traz." Um dos últimos foi dado por uma das tenentes que cuidam da sua segurança, na sexta-feira, dia 8. De metal, com peças delicadas, ele ainda estava na caixa, à espera de um espacinho na casa do governador.

Como um pai que não revela seu preferido, Lembo diz que todos são especiais. "Adoro os mexicanos, porque são coloridos, alegres. Acho que os presépios acabam refletindo seu povo", diz, enquanto vai mostrando os portugueses, os latinos, os alemães e até um africano.

Com medo de ter alguma peça incorporada ao acervo do Palácio, Lembo não levou nenhum para lá. "Vou passar o Natal longe dos meus presépios. Mas em 2007 quem vai montá-los serei eu." Até lá, a coleção do governador deverá estar ainda maior.

Daniela Tófoli. Folha, 23/12/2006