O genial mulato
Olhos entrefechados, pele azeitonada
Bastava um gole de parati, o primeiro que fosse, para que Lima Barreto começasse a trocar as pernas. Neto de escravos, amanuense do Ministério da Guerra, despido de elegância e vaidade (dir-se-ia mesmo o contrário: em comparação com os janotas que batiam ponto à porta das confeitarias e cafés da Rua do Ouvidor, da Rua Gonçalves Dias ou da Avenida Central, no Centro do Rio, era quase um mendigo), alcoólatra, subestimado e repudiado pela sociedade preconceituosa de então, foi, no entanto, o mais importante romancista brasileiro do começo do século passado. (...)
Mulato de pele azeitonada, Lima Barreto tinha com freqüência os olhos entrefechados, como um gato recém-nascido. O crítico Agrippino Grieco notou nele um “sorriso um pouco misterioso de malaio”. Principalmente quando se deixava ficar nas tascas do Centro, com outros bebuns, tomando coragem para voltar a casa no subúrbio de Todos os Santos onde vivia com o pai viúvo e louco e dois irmãos.
No trem da Central, viajava sempre em carro de segunda classe e, estando embriagado, costumava falar sozinho, dizendo-se um grão-duque exilado da Rússia disposto a mandar todos que julgava seus inimigos (leia-se os escritores de sucesso, entre eles Machado de Assis e Coelho Neto) para a Sibéria. Dava a impressão de não notar nada a seu redor, mas via tudo e ia tomando nota mentalmente para seus futuros romances, contos e crônicas. (...)
E o Marecha, modesto, num intervalo da feijoada da Portela: "Isso aí eu escrevi pra influenciar você e o papacharlie..."
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